FOTO DE PAISAGEM
Apesar de acharem que o momento se repetiria
que não precisava registro, tiraram mais uma foto, entre sorrisos e gracejos:
- Vamos guardar, mas é bobagem. Seremos
felizes amanhã -.
Não adianta. Por mais feliz que se
esteja, tem sempre algo carcomido. Mas que não parece acabar nunca, Fica ali, resistente em seu desfazer.
O tempo é como o passageiro de um
trem a nos olhar distraído com a testa encostada na janela fria. Somos apenas
aquela paisagem, que vai ficando para trás, sumindo enquanto embalado pelo som
dos trilhos, o tempo, adormece.
Durante esse tempo, que o Tempo se
dá, seremos outra paisagem. E ao despertar, surpreso, o Tempo vai notar que
tudo está diferente.
Sentimentos mudados, pensamentos
outros e endereços também. Deu um alívio ter fotos da antiga paisagem. Muita
coisa mudou, passou se perdeu. Lugares que nunca mais foram visitados, amigos
em comum que nunca mais foram vistos, móveis que foram vendidos e os planos que
ficaram só planos mesmo. Mas restaram as fotos, e com elas, o embrulho no
estômago enquanto se comentava: “lembra desse dia?” E se calaram. Um silêncio
triste e enjoado. Aquele silêncio que marca um adeus. Não havia mais nada para
dizer. Era só uma caixa incômoda, repleta de sorrisos paralisados. Nada mais. E
como não havia nada mais a dizer e talvez por isso mesmo e mais a pressa, o
enjoo, o medo, alguém diz: “Leva, leva tudo. Afinal, você tem mais espaço do
que eu”.
A caixa foi parar no fundo de algum
armário, envolvida por um tipo peculiar de escuridão. E ali permaneceu.
terça-feira, novembro 22, 2016
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Tania Salgueiro 2017- Todos os Direitos Reservados
1 comentários:
Muito bom.... Fotos têm destino próprio: esmaecem até se apagarem de todo... assim como tudo. Armários escuros nos acompanham...
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