FOTO DE PAISAGEM

Apesar de acharem que o momento se repetiria que não precisava registro, tiraram mais uma foto, entre sorrisos e gracejos:
 - Vamos guardar, mas é bobagem. Seremos felizes amanhã -.
Não adianta. Por mais feliz que se esteja, tem sempre algo carcomido. Mas que não parece acabar nunca, Fica ali, resistente em seu desfazer.
O tempo é como o passageiro de um trem a nos olhar distraído com a testa encostada na janela fria. Somos apenas aquela paisagem, que vai ficando para trás, sumindo enquanto embalado pelo som dos trilhos, o tempo, adormece.
Durante esse tempo, que o Tempo se dá, seremos outra paisagem. E ao despertar, surpreso, o Tempo vai notar que tudo está diferente.
Sentimentos mudados, pensamentos outros e endereços também. Deu um alívio ter fotos da antiga paisagem. Muita coisa mudou, passou se perdeu. Lugares que nunca mais foram visitados, amigos em comum que nunca mais foram vistos, móveis que foram vendidos e os planos que ficaram só planos mesmo. Mas restaram as fotos, e com elas, o embrulho no estômago enquanto se comentava: “lembra desse dia?” E se calaram. Um silêncio triste e enjoado. Aquele silêncio que marca um adeus. Não havia mais nada para dizer. Era só uma caixa incômoda, repleta de sorrisos paralisados. Nada mais. E como não havia nada mais a dizer e talvez por isso mesmo e mais a pressa, o enjoo, o medo, alguém diz: “Leva, leva tudo. Afinal, você tem mais espaço do que eu”.


A caixa foi parar no fundo de algum armário, envolvida por um tipo peculiar de escuridão. E ali permaneceu.

1 comentários:

Vera Menezes disse...

Muito bom.... Fotos têm destino próprio: esmaecem até se apagarem de todo... assim como tudo. Armários escuros nos acompanham...

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