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Mais Da Vinci, Menos UTI


Leonardo da Vinci desenhou uma cidade inteira com o advento estarrecedor da peste bubônica. Ficou

conhecida como “Cidade Ideal” uma ideia incrível e Da Vinci pretendia salvar vidas com ela. Pena que ficou só no papel.

Estou pensando nessa cidade, nas variantes e nas pessoas que saem por aí, sem praticar se quer um único protocolo de segurança. Devem mesmo ter a crença de que se pegarem COVID e precisarem de internação, se conseguir internar, é só tomar injeçãozinha, passar uns dias numa enfermaria, batendo um papo com a enfermeira de plantão. Se piorar, leva para a UTI, intuba e tá tudo certo! Exagerei? Pula a cena. Mas lembra então das pessoas que não acreditam na ciência. E daquelas que pelo fato de que vamos morrer um dia, seguem por aí nessa onda egoísta. Fingem que nada tá acontecendo. Penso que muitas, encarando uma UTI, terão que admitir: “sem ciência não dá”. Outras, que o fato de morrermos um dia, não é algo tão fácil de lidar, principalmente dentro de uma UTI. Para o bem ou para o mal, acredite, muitos de nós somos mais apegados à vida do que parecemos.

Podemos contrair o vírus mesmo com todos os protocolos, claro.
Mas confesso que tenho muita dificuldade em entender pessoas que podem, possuem condições para seguir os protocolos, e ainda assim se arriscam. Muitos ocupando uma vaga num hospital por pura irresponsabilidade. Vaga que poderia ser de outra pessoa, com uma doença até mais grave.
Todos nós temos histórias. Tá difícil. Barra pesada demais. Mas temos que seguir. Precisamos ser coerentes para que as coisas melhorem. E quanto ao Da Vinci e sua Cidade Ideal, bem, ela está inspirando arquitetos, engenheiros, ambientalistas... Muito legal. E nem teria como ser diferente. Afinal, é Da Vinci. Vamos nos inspirar, nos espelhar nessa ideia de salvar vidas. Mas na verdade não precisamos do gênio renascentista para saber o quanto a vida é importante! Ou será que precisamos? Alguém aqui precisa que desenhe? Ah, claro que não né?!

 

Amor e Nada Mais

 

Não, não quero que ninguém me dia qual boca devo beijar. Minhas escolhas andam juntas com os desejos da minha alma e só. Não tenho nenhuma outra vontade, outro desejo que esse: amar e amar a alma, os olhos, o jeito... E tudo que faz o outro ser quem ele é.

Então amo, nada mais.

Amo até as vísceras, até o corpo entorpecer, até o perder dos dias. E seguir a beijar, beijar... Na liberdade das noites, até quem sabe, poder conquistar a claridade das manhãs.

 

Amor de Mar

 

Rebento sobre as pedras. Desfaleço e volto a rebentar de dor e sofrimento.

Pura desesperança de um mar só e profundamente triste, a vê-la inalcançável. Sempre, sempre... Desfaleço.

Ah, esse coração que não tenho e que apesar disso, sinto em mim, a seguir amando ondulante, forte, viril, nesse meu infindável ir e vir por toda a terra que ocupo, por todo desejo que sinto ao vê-la, sempre, sempre... Desfaleço.

Até que tudo se transforma, quando ela vem em minha direção, num dia quente, feliz, com as delicadas mãos salpicadas de areia e o vento a lhe arrepiar pele e pelos enquanto brinca em seus cabelos. Puro encanto da cabeça aos pés! Quantas correntezas de mim emergem por conta desse amor desenfreado e louco!

Mas, ao tocá-la, me acalmo. Me visto dos tons mais belos de azuis e verdes e fico, ali, espelho refletindo o céu, a receber seu mergulhar. E em puro êxtase, envolvo seu corpo flutuante, agora meu. Totalmente meu.

Ficamos ali, unidos, corpo e água, até ela cansar, até que arfante ela retorna para areia, me olhando sorrindo, quando em onda ressurjo para lhe beijar os pés, até onde alcanço o que agora inalcançável está. 

A NOIVA DO MAR



A Noiva do Mar

Luzia ainda era uma menina quando se encantou por João da Silva Filho.
"João da Silva Filho"... Ela achava lindo esse nome e quando estava em casa sempre arranjava um jeito de comentando sobre os pescadores com a avó, dizer: - sabe vó, hoje cedinho eu vi a embarcação do João da Silva Filho apontando lá por trás da pedra grande. Eita que aquele barco do João da Silva Filho é bem bonito!
A avó já esbranquiçada cabelos e veias achava graça do jeito da neta e lhe dizia: Luzia, Luzia... João é muito velho procê! Devia se meter com os da tua idade: Jeremias, Robson...
- Qué isso vó! Ele é só quatro anos mais velho que eu! E a senhora tá caducando se acha que vou dar trela pra esses garotos que nem nome bonito tem. Eu amo João vó! E um dia ele vai me amar também. A senhora há de ver!
João gostava da moça, mas como a avó era severa, ficava ressabiado de falar de amor com Luzia e então, ficava tudo na amizade mesmo.
E assim se passaram dois anos; Luzia suspirando... João receando...
Até que, o pai do João, cansado de ver aqueles dois, um olhando no olho amoroso do outro sem nada dizer, foi ter com a velha. Acertaram deles dois se conhecerem melhor pra ver se tinha futuro.
E numa festa na pracinha do lugar, todo mundo viu João e Luzia de mãos entrelaçadas, conversando baixinho... Desse jeito mesmo dos apaixonados, quando querem manter o resto do mundo bem longe.
E passado mais um ano, o casamento estava marcado.
Luzia fazendo seu vestido de noiva, João querendo pescar todos os peixes do mundo!
Quando não se costurava, nem se pescava, era na praia que se encontravam. Falavam da vida de casados, de filhos... Faziam planos... Ou só ficavam ali, juntinhos sem nada dizer. Ás vezes, quando Luzia, sentada na pedra grande, se distraída olhando o mar, João sussurrava em seu ouvido: - Tira teus olhos do mar Luzia!  Se ele cisma, rouba de mim teu coração e te leva pra nunca mais voltar!
- Luzia sorria. Amar João era seu destino. Tão certo como o ir e vir das ondas. Não tinha maior felicidade no mundo que aquela de ficar de mão dada, beirando a praia, chutando areia ao lado de João. João da Silva Filho que ia voltar para o mar.
Foi isso que ele lhe disse, já na porta da casa de sua avó.
- Como assim...? Vai de novo pro mar? - Disse Luzia irritada - Você acabou de voltar João. Tem graça não.
- Eu sei, mas meu pai precisa de mim... Jó tá doente Luzia. Eu ia dizer o que? Olha só... Vai ser bom ganhar mais um dinheiro! Pensa bem: juntando com o das tuas costuras, faremos uma bela festa de casamento e ainda sobra para nossa Lua de Mel. Eita... Bom demais!
E lá se foi João sumindo em meio às ondas.
Dois dias depois, com a manhã ainda despontando no céu, a avó de Luzia, arrastando chinelas, acorda a menina dizendo - tive em sonho, um aviso: o tempo vai virar.
Luzia, acostumada com as crendices da avó, abre a janela e vendo o sol surgindo diz: - Vai não vó. Olha esse céu! Puro fogo de tão vermelho. E o pai de João me garantiu que é tempo firme toda essa semana. João volta daqui a dois dias. O pai de João nunca erra no tempo.  A senhora sabe disso!
- Sei não menina... Sei não... Melhor acender uma vela, e pedir proteção.
Luzia foi fazer o que a avó lhe disse, só para agradar. Mas sentiu um arrepio de medo, quando o vento sorrateiro apagou a vela. Contrariada consigo mesma, pensou: - Ah, tô ficando caduca igual a vó! Eu hein! Olha o céu azulzinho! O mar tão mansinho... Vai virar tempo nenhum!
No dia seguinte, ao acordar, Luzia deu de cara com o mar refletindo um céu carregado. Tudo era negrume e vento. Não demorou muito e o mar se agigantou.
Passaram-se quinze dias. João não voltou. Luzia era só dor e loucura: - João volta, volta sim. Tempo não vira, não vira...
Sua vó não sabia o que fazer. Ninguém sabia. Luzia parecia ir morrendo aos poucos com o passar dos dias. Dias que Luzia vivia na praia. Ia cedo. Seus olhos vasculhando as águas, a boca sussurrando coisas ao vento, enquanto se lembrava de João lhe dizendo: tira teus olhos do mar Luzia! Tira os olhos do mar...
Luzia empalidece e pensa: - Se o mar levou meu João, meu João agora é o mar. É isso! João agora é o mar De repente Luzia se põe a andar de volta pra casa apressada. Segue beirando a praia, ouvindo em sua loucura a voz de João vindo da arrebentação: - Vem Luzia, vem pro teu João teu João agora é mar... Vem!
Uma Luzia febril e ofegante, pega o véu do seu vestido de noiva, olha para a avó que ainda dorme e volta para a praia. Sobe na pedra grande, estendendo o véu ao vento.
- Olha João, olha! Não ficou bonito meu véu? Não te mostro o vestido para não dar azar.  E perdida nas lembranças, Luzia delirantemente feliz, dança sobre a pedra olhando para aquele céu de fogo, dizendo: - Vê João? O céu vermelhinho. Hoje o tempo não vira! O tempo não vira! Não vira nunca mais!
- Então vem Luzia, vem pra teu João!
Luzia se volta para as ondas que arrebentam de encontro a grande pedra. Ali parada o olhar alargando pelo mar adentro...
- Vou João, me abre teus braços, me acolhe em teu peito, que a saudade que sinto, é maior que o oceano.


                                                                                    

Tania Salgueiro 2017- Todos os Direitos Reservados

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